domingo, 14 de março de 2010

5 ANOS DEPOIS ASSASSINOS DE JOÃO LEOCÁDIO CONTINUAM IMPUNES

Eram mais ou menos 13h45 do dia 10 de março de 2005, uma quinta-feira, quando o professor João Henrique Borges Leocádio (PDT), de 40 anos, ocupando há pouco mais de dois meses o cargo de prefeito de Buriti Bravo, chegou em casa, vindo da sede da prefeitura.

Aparentando um certo nervosismo - a empregada da residência, Marilu, percebeu que sua mão tremia quando ele pegou um copo com água de um recipiente na geladeira -, João sequer almoçou. Logo depois de beber a água, entrou no quarto da casa, onde estava sua mulher Arlete Jatai, foi até o guarda-roupa e retirou de lá metade dos R$ 10 mil que estavam num envelope. Falou rapidamente para Arlete que precisava "resolver uma coisa" e deixou a casa apressado.

Antes de entrar em seu Corsa Sedan prata, o prefeito ainda conversou com seu motorista Francisco de Assis Soares, o "Ferrinho", que estava na porta da residência, localizada na rua Josias Jataí, 78, centro de Buriti Bravo. "Ferrinho" queria dirigir para João Leocádio, mas ele dispensou o motorista. "Não se preocupa, não, ‘Ferrinho’. Eu tô com a arma aí no carro", disse o prefeito e saiu com o veículo.

Aproximadamente uma hora depois (cerca de 15h), o corpo de João Leocádio era encontrado sem vida pelos lavradores conhecidos como Vicente Piaba e Antonio Gonçalo. Ele estava de bruços, com um tiro no ouvido direito, ao lado de seu carro, numa estradinha de terra que leva ao povoado Gameleira (a 3 quilômetros da sede de Buriti Bravo).

O revólver que o prefeito mencionara a "Ferrinho" - um Taurus calibre 38, que João passara a portar após receber repetidas ameaças de morte - foi achado no local com as quatro balas com que o prefeito costumava municiá-lo intactas, sem sinais de que tivesse sido usado. Os R$ 5 mil que João pegou em casa antes de sair desapareceram.

Prisões - O assassinato de João Leocádio causou grande comoção, não só em Buriti Bravo, mas em todo o estado. Diversas manifestações se sucederam na cidade - distante 519 quilômetros de São Luís -, pedindo a punição dos culpados. O então governador José Reinaldo Tavares (PSB) determinou providências imediatas ao então secretário de Segurança Raimundo Cutrim para que o crime fosse elucidado. Em pouco tempo, um grande aparato policial tomou conta da cidade, sob o comando do delegado Hagamenon de Jesus Azevedo, indicado para presidir o inquérito.

A pressão da população deu resultado nesse primeiro momento e, apesar de algumas trapalhadas nas investigações (veja texto em destaque), em aproximadamente dois meses os dois principais suspeitos de executar o crime já estavam presos: Antonio Marcos Alves de Sousa, o "Marcão" ou "Marco do Deti", e Wytamar Costa da Silva.

Caso congelado - Ficou claro desde o início que se tratava de um crime de encomenda - apesar de o secretário Cutrim insistir durante algum tempo numa improvável hipótese de suicídio -, mas foi aí que o caso congelou.

O maior suspeito de ser o mandante do assassinato de João Leocádio - o ex-prefeito Wellington de Jesus Fonseca Coelho, o "Tico" (do então PFL, atual DEM), aliado fiel da família Sarney, que concorreu e perdeu a eleição para João em 2004 - nunca foi devidamente investigado, apesar de sempre ter deixado claro que jamais aceitara a derrota para o pedetista. Chegou a forjar uma denúncia de compra de apoio político, por parte de João Leocádio, de um vereador de Buriti Bravo.

Em maio de 2006, a juíza Karla Jeane Matos Pereira da Silva, titular da Comarca de Buriti Bravo, decretou a prisão preventiva de Wellington Coelho, com base em escuta e quebra de sigilos telefônicos e bancários, autorizados pela Justiça. Três meses depois, a Justiça concedeu habeas corpus a Coelho, o que lhe garantiu a liberdade até janeiro de 2008, quando morreu, vítima de um enfarte fulminante.

As ligações de Wellington Coelho com "Marcão" ficaram bem evidenciadas no decorrer das investigações. Na época do crime, "Marcão" era dono do posto de gasolina Atlanta, em Buriti Bravo, e fornecia combustível para a prefeitura. O fornecimento se estendeu até a campanha eleitoral de 2004. A saída de Coelho da prefeitura foi um desastre para os negócios de "Marcão".

"Marcão" e Wytamar Costa se conheceram em São Paulo, em 1998, para onde Wytamar fugiu depois de ter matado o próprio pai, o oficial de Justiça Ismael Ferreira da Silva. Em São Paulo, segundo a polícia, "Marcão" e Wytamar assassinaram, por encomenda, um funcionário de uma lanchonete no Bairro do Glicério, de nome Edílson (natural de Lagoa do Mato, Maranhão), e fugiram para Parauapebas (Pará).

Em 2002, Wytamar foi morar em Teresina (Piauí), cidade onde, em 2004, "Marcão" o teria reencontrado. Um ano mais tarde (fevereiro de 2005), a dupla teria se juntado para executar o assassinato de João Leocádio.

Com os Sarney em Brasília - Wellington Coelho sempre negou ter mandado matar João Leocádio. Em depoimento à Justiça, em setembro de 2006, declarou que no dia do crime estava na companhia de integrantes e aliados da família Sarney em Brasília - entre eles, deputado federal Sarney Filho (PV), então senadora Roseana Sarney (PMDB), deputado federal Clóvis Fecury (DEM) e o então senador Francisco Escórcio (PMDB).

Antonio Marcos Alves de Sousa e Wytamar Costa da Silva também nunca admitiram participação no assassinato do prefeito. Hoje, os dois estão soltos e aguardam em liberdade por um julgamento que não tem data para acontecer.

"Marcão" mora em Caxias, e só passa em Buriti Bravo esporadicamente. "Eles estão soltos por culpa da morosidade da Justiça, que em cinco anos ainda não concluiu o processo", disse ao Jornal Pequeno Raimundo Nonato Pereira Ferreira, 56 anos, atual prefeito de Buriti Bravo. Pereira, então no PMDB, era vice de João Leocádio e assumiu o cargo depois de seu assassinato. Reelegeu-se em 2008 pelo PDT.

O processo referente ao caso João Leocádio - que tem mais de 1.800 páginas e doze volumes - está na Comarca de Porto Franco.

Arlete Jatai, viúva de João Leocádio, deixou Buriti Bravo e foi morar em Teresina, com as duas filhas que teve com João - Laís e Sabrina, hoje pré-adolescentes.

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